Há coisas boas na vida que agente nunca esquece. Fica lá, em nossas mentes e, quando uma situação qualquer aviva aquele momento, as lembranças fluem e nos faz voltar no tempo.
Era o ano de 1977, eu tinha 7 anos de idade. Meu pai, Aluízio Ezequiel, torcedor do Treze (foi com ele que aprendi a torcer pelo galo) nos disse que ia haver um grande jogo no amigão, Treze X Palmeiras (SP) e dos irmãos eu fui escalado para acompanha-lo para assistir a partida. Foi assim minha primeira vez no Ernani Satiro.
Nos dias que antecederam aquela estréia não dormi direito, tão grande era a espectativa. No domingo do jogo amanheci com a cara inchada, um maldito dente queria impedir que eu visse aquele confronto histórico. Minha mãe, dona Socorro, de saudosa memória, tentou impedir que eu fosse, mais relutei. Não lembro que argumento usei, só sei que fui.
Saimos de casa por volta de meio dia, de biclicleta, eu no bagajeiro. Meu pai deixou a bike na casa de um amigo, João Bastos. Lá comemos doce, desses do tipo mariola (até esse momento pueril merece um abono - doce naquele tempo era raro!), tomamos água e fomos em busca de pegar o carro com destino a Campina. Embarcamos numa caminhoneta de transporte alternativo e lá chegando fiquei embasbacado com tanta novidades. Ainda fora do estádio fiquei admirando aquela mutidão sem enteder nada, enquanto meu pai olhava as placas dos carros para ver de onde eles vinham.
Na hora de entrar no campo passei por baixo da roleta e novamente fiquei impressionado com parte interna abaixo das arquibancadas. Tudo era diferente. Subimos os degraus de acesso as arquibancadas e, cada vez que me aproximava uma imagem nova se formava em minha frente e de repente vejo uma coisa, no mínimo bela, o verde do gramado emoldurado pela enorme platéia que superlotava o Amigão. Ainda hoje fico arrepiado quando me lembro daquele momento.
Fiquei deslumbrado com tudo que via e o jogo foi o que menos me interessou. Eu olhava tudo ao redor e minha atenção só era desviada quando passava um vendedor de alguma coisa por perto, eu olhava pra seu Aluízio, com um olhar pidão, na ânsia que ele comprasse alguma coisa pra eu comer e nada, aí eu voltava para olhar pra tudo, menos pra o jogo.
Mais ainda cheguei a ver alguns lances: o gol do Palmeiras (acho que de Jorge Mendonça) e um solitário torcedor vibrando sem medo no meio de um mar de trezeanos; o gol do treze, de Neinha, esse eu não vi, só sentir a vibração que quase derruba o amigão; vi ainda um chute que o mesmo Neinha deu contra a meta de Leão e o goleiro da seleção brasileira se esforçando o máximo para deveder, botando para escanteio.
A noite caiu e as luzes de Campina começaram a brilhar, outro encantamento. De longe eu via uma luz vermelha que acendia e se apagava, meu Deus como aquilo acontece? Depois descobri que era um letreiro no alto do edifícil Lucas com a inscrição "DUPÉ", uma sandália da época, fabricada pela BESA.
O jogo acabou, saimos do campo e demoramos um bocado para arranjar outro carro para voltarmos, dessa feita foi um caminhão que nos trouxe de volta a Queimadas. Agora tudo já era entediante pra mim - eu queria tá em casa, era a fome. A demora para sair de lá pelo menos serviu para alguma coisa, podemos ver o ônibus que levava a delegação palmeirense deixar o estádio e, o goleraço Leão, em pé, ao lado do motorista. E a última lembrança que tenho daquele instante foi quando um torcedor galista gritou: "LEÃO É UM CACHORRO QUE TENHO LÁ EM CASA".
Trezeando que se preza nunca torceu por time de fora que vem jogar contra o galo aqui.
Lembrei de tudo isso quando achei por acaso no faceboock do Retalhos Histórico de Campina Grande uma foto do time galista que atuou nesse jogo, aí todas as lembranças daquele dia inesquecível vieram a tona.
FICHA TECNICA DA PARTIDA:
TREZE (PB) 1 x 1 PALMEIRAS (SP)
Data: 23/10/1977
Campeonato Brasileiro 1977, 1ª Fase (Grupo B) - 3ª rodada
Data: 23/10/1977
Campeonato Brasileiro 1977, 1ª Fase (Grupo B) - 3ª rodada
Local: Estádio Êrnani Sátiro / Campina Grande
Público: 30.175 pagantes
Renda: Cr$ 731.810,00
Árbitro: Luís Carlos Félix (RJ)
Cartões amarelos: Miguel Guaraci (Treze), Macedo (Palmeiras)
Gols: Neinha 38/1º, Jorge Mendona 05/2º
TREZE: Sorriso, Miguel, Guaraci, Paulo Ricardo, Haroldo, Wílson, Neinha, Mozart, Roberval, Mundinho (Erasmo), Assis / Técnico: Raimundinho.
PALMEIRAS: Leão, Rosemiro, Mário Soto, Beto Fuscão, Zeca, Pires, Ivo, Jorge Mendonça, Edu, Toninho (Picolé), Nei (Macedo) / Técnico: Jorge Vieira.
Público: 30.175 pagantes
Renda: Cr$ 731.810,00
Árbitro: Luís Carlos Félix (RJ)
Cartões amarelos: Miguel Guaraci (Treze), Macedo (Palmeiras)
Gols: Neinha 38/1º, Jorge Mendona 05/2º
TREZE: Sorriso, Miguel, Guaraci, Paulo Ricardo, Haroldo, Wílson, Neinha, Mozart, Roberval, Mundinho (Erasmo), Assis / Técnico: Raimundinho.
PALMEIRAS: Leão, Rosemiro, Mário Soto, Beto Fuscão, Zeca, Pires, Ivo, Jorge Mendonça, Edu, Toninho (Picolé), Nei (Macedo) / Técnico: Jorge Vieira.
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também fiquei impressionado quando fui a primeira vez ao amigão. isso foi por volta de 1983. nunca tinha visto uma estrutura de tamanha dimensão e eu me perguntei: quantos sacos de cimento foram necessários pra esse estádio ficar pronto? eu tinha 11 anos.
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